sexta-feira, 16 de julho de 2010

As cronicas do homem púrpura - parte 01

Após tomar mais uma porrada da vida e me foder psicologicamente por gostar de uma guria, resolvi dar uma folga ao meu coração. Era um dia chuvoso de inverno, o coração batia rápido demais, me fazia sentir calor e calafrios ao mesmo tempo, me deixava distraído e doía o tempo inteiro. Resolvi que ia lhe dar uns dias de férias.

Retirei de dentro do meu guarda-roupa uma caixa de metal, com alguns detalhes pretos e uma fechadura de ouro que recebi de um amigo, ele me disse que aquela era a caixa mais segura desse mundo. Não foi fácil retirar o coração do peito, era pesado demais, cheio de cicatrizes, sangrava também e era principalmente muito agitado e descontrolado.

Tranquei-o na caixa e pus a pequena chave de ouro no meu bolso. Instantaneamente uma sensação incrível de leveza me apossou, era como se não tivesse mais problemas e tudo à minha volta perdesse as cores.
Porque aqueles porta-retratos, fotos de pessoas e bandas ocupando tanto espaço nas paredes e na escrivaninha? E porque era tudo tão verde e azul?! Lembro-me que costumava dizer que "amava" aquelas cores e músicas e pessoas. Não tinha mais sentido aquilo tudo, era hora de mudar. Juntei tudo numa caixa para jogar fora, ia otimizar aquele espaço. Pra que tanta cor, tanto sorriso? Fiz uma nota mental pra lembrar de mandar pintar tudo de branco.

Enquanto tomava café da manhã minha mãe abraçou. Não sei porque falava com tanto carinho comigo, queria que eu fosse com ela no aniversário de meu irmão e disse que estava com saudade de meus sorrisos, que eu andava estranho... Me dignei a mandar um "Tudo bem" pra ela antes de ir para o meu serviço.
Saí pra trabalhar, passei na frente da casa da minha ex-namorada, Havíamos terminado a algum tempo. Antes do farol abrir pude ver a porta da casa dela se abrindo e um homem saindo de lá com ela, entre beijos e abraços. Não senti nada. Era incrível como algumas horas atrás ficaria devastado, mas naquele momento ela era menos que uma desconhecida para mim. Prossegui meu dia como se nada tivesse acontecido.
Foi o melhor dia da minha vida. Não me importei quando tocou Road’s no rádio (era minha música com minha ex. Era engraçado como eu achava lindo ela reclamar que odiava filmes de terror, agora eu simplesmente acho-a uma imbecil), muito menos quando me contaram que meu melhor amigo, e colega de trabalho, tinha sido demitido (à um dia atrás ficaria o dia inteiro deprimido), e meu chefe me elogiou pela precisão e frieza com a qual raciocinava aquele dia.

Cheguei em casa decidido a não recolocar meu coração. A caixa estava barulhenta e se mexia demais, começou a me incomodar com o barulho e o choro que vinha de lá à noite. Resolvi então vendê-lo na internet. Em incríveis dois dias encontrei um comprador. Despachei rapidamente a mercadoria pelo correio.
Meu irmão, em um dia normal (engraçado como todos os dias pareciam normais agora), me fez uma visita. Ele tinha se casado há seis meses, ele veio me dar a notícia de que a mulher dele estava grávida. Esbocei um sorriso respondendo "Que bom". Ele me abraçou com os olhos cheios de lágrimas. Nossa, um abraço tão entediante e monótono quanto todos que vinha recebendo ultimamente.

No trabalho meu chefe já dizia que eu estava frio demais, que eu tinha que pôr mais paixão no meu trabalho, e não vendo meu progresso me pôs pra trabalhar na parte administrativa da empresa, só tinha que fazer contas, não criava nada de diferente. Não preciso nem dizer que não fiz nenhum amigo ou avanço por lá.
Não me importava mais em ver ninguém, há meses não encontrava um amigo ou familiar, e aos poucos todos cansaram de me procurar. Todas as comidas tinham o mesmo gosto, todas as cores eram iguais, todas os filmes, músicas, pessoas, eram entediantes demais. Senti falta de sentir alguma coisa.
Continua...

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